In this article, I argue that in order to maintain some organisational uniformity the Portuguese police institution must ensure a high level of individual mobility – that is, a professional community on the move all over the country. Based on in-depth fieldwork in Portuguese police stations, I treat police bureaucracy not only as an institution with fixed boundaries but also, and simultaneously, as a unit continuously sustained by broader environments and the officers’ own domestic rationales.
This article received the ERICS Award, ICS 2011.
Este texto parte de dados de um estudo etnográfico sobre a Polícia de Segurança Pública portuguesa e os modos do policiamento urbano. São destacadas algumas das principais considerações sobre como a atividade policial é sustentada por uma gestão e moralização de ordens urbanas, construídas em várias escalas, conferindo ao tema do “crime” um peso relativo e mesmo ambíguo. Para tal contribui a forma como os polícias aprendem a cidade, como aprendem a burocracia e como vivem as experiências da deslocação nas suas trajetórias pessoais. O texto propõe ainda uma reflexão sobre como o processo de produção de estatísticas criminais ocupa um papel cada vez mais relevante na definição das identidades e da organização policiais.
Segurança e insegurança são aqui pensadas através de um enfoque exploratório aberto, deliberadamente demarcado de enquadramentos recentes que têm vindo a fechar o âmbito destas noções numa só das suas dimensões, isolando-a da complexa relação que mantém com outras. Ao fazê-lo, têm-na também abstraído do conjunto de aspetos da vida social em que se encontra imersa. Retomando em toda a sua plenitude o âmbito semântico de tais noções, no qual se incluem conotações de estabilidade, previsibilidade, proteção, ou, ao invés, vulnerabilidade e precariedade, examinamos as sucessivas reduções de sentido e ambiguidades que as envolvem. Ao resgatá-las assim ao quadro redutor em que têm vindo a ser encerradas, pretendemos reconquistar a amplitude analítica necessária para acolher em tais categorias os aspetos relativos à produção de segurança ou insegurança a quaisquer níveis em que se apresentem, desde noções ideológicas e perceções culturais até relações sociais e práticas institucionais, passando pelo funcionamento do Estado e dos seus atores. É neste quadro que se apresentam, articulados, os conteúdos deste dossiê.
Este texto propõe o resgate do conceito de “carreira subjetiva”, de Everett Hughes, no seio de uma teoria social das organizações. O objetivo mais específi co consiste em propor uma análise da forma como é percepcionada por polícias uma certa lógica nas suas trajetórias profissionais. O texto baseia-se numa etnografia recente desenvolvida em esquadras de Lisboa. Nele são exploradas as construções subjetivas que estão na base das fases da vida profi ssional dos agentes e a definição de certos estilos de ser polícia. Sempre que oportuno, são apontadas algumas diferenças manifestas na socialização de homens e de mulheres nesses contextos.
Las prácticas clasificatorias que se producen en las interacciones cotidianas entre policías, tanto en su dimensión cognitiva y comunicacional como en su dimensión de poder y dominación, caracterizan un aspecto fundamental del medio policial. A partir de una reflexión sobre diferentes materiales discursivos, se propone el análisis histórico y etnográfico de una categoría que, pese a que hoy se reduce a un término, mitra, revela una cierta agilidad y poder performativo por su adaptación a contextos históricos diferenciados. El análisis de este estereotipo, que ha cristalizado como el nudo de un discurso que refleja experiencias y prácticas profesionales concretas, tiene como objeto revelar hasta qué punto las representaciones sobre las complejas y conflictivas realidades urbanas participan igualmente en la construcción de esa misma realidad.
When organisations go through a reorganisation phase, it is more than probable that the social and professional reproduction phase will be particularly tense. To illustrate my point, I use ethnographic data on two different organisations and professions: typographers and policemen in the Portuguese context. In the text considerable importance is attributed to the expression of forms of resistance to change, to cycles of renovation and remodelling organisations go through. In order to describe and analyse the social interactions and cultural representations that are drawn in social reality, the ethnographic method of observation has turned out to bean essential tool.
Les villes vivent de et sont également vécues au travers des métiers. L’article porte sur l’ethnographie de trois métiers de la ville : cuisiniers macrobiotiques, ouvriers typographes et tatoueurs «professionnels». Il propose d’explorer et de comparer la façon dont le corps assume le rôle de protagoniste. Les métiers appréhendés impliquent tous de la dextérité, de la participation, de la coordination et un développement différentiel des cinq sens.
O artigo dá conta dos principais resultados globais do projecto de investigação Memória e Identidades Profissionais – Reprodução de Sistemas Sócio-Técnicos (Praxis/ FCSH/P/ANT/44/96), que decorreu no Centro de Estudos de Etnologia Portuguesa entre Outubro de 1997 e Março de 2000. Discutem-se as balizas conceptuais e metodológicas mais importantes da pesquisa – a noção de sistema sócio-técnico tal como foi aqui desenvolvida, o conceito de carreira, os recursos proporcionados pelos métodos biográficos e pela construção de cadeias operatórias – salientando-se a preocupação constante de conjugar a observação micro de trajectórias, interacções e interpretações individuais com o estiado dos contextos em que aquelas têm lugar e com a elaboração de modelos visando uma compreensão global do objecto. Comparam-se em seguida as diferentes modalidades de construção e reprodução dos quatro grupos em estudo e da sua identidade ocupacional, salientando-se o papel fulcral que aí adquirem os processos de elaboração social da qualificação, nos quais se entrelaçam procedimentos técnicos, dinâmicas de relação e redes de significado.