Este texto propõe o resgate do conceito de “carreira subjetiva”, de Everett Hughes, no seio de uma teoria social das organizações. O objetivo mais específi co consiste em propor uma análise da forma como é percepcionada por polícias uma certa lógica nas suas trajetórias profissionais. O texto baseia-se numa etnografia recente desenvolvida em esquadras de Lisboa. Nele são exploradas as construções subjetivas que estão na base das fases da vida profi ssional dos agentes e a definição de certos estilos de ser polícia. Sempre que oportuno, são apontadas algumas diferenças manifestas na socialização de homens e de mulheres nesses contextos.
This article dissects the author’s approach to ethnography, social theory, and the politics of knowledge through a dialogue retracing his intellectual trajectory and the analytic linkages between his inquiries into embodiment, comparative urban marginality and the penal state. It draws out the practical connections and epistemological rationale behind his main research projects, explicates the distinctive ways in which he deploys observational fieldwork in each of them, and examines the roles of intellectuals in advanced society in the era of hegemonic neoliberalism. Rejecting both Humean empiricism and neo-Kantian cognitivism, the author argues for the use of ethnography as an instrument of rupture and construction, the potency of carnal knowledge, the imperative of epistemic reflexivity, and the need to expand textual genres and styles so as to better capture the taste and ache of social action. In the public sphere, he proposes that social science can act as a solvent of doxa and a beacon casting light on latent properties and unnoticed trends in social transformations so as to disrupt and broaden civic debate.
O que fazem os polícias? Como classificam os meios sociais e as pessoas com que se cruzam? Como são organizados os seus serviços, o seu trabalho? Que carreiras projetam? Que situações enfrentam na instituição e nos seus quotidianos? O livro que vão ler responde a estas e muitas outras perguntas. Pela primeira vez entramos diretamente no coração da atividade dos polícias de segurança pública em Portugal.
Loïc Wacquant é professor de sociologia na University of California, em Berkeley e investigador do Centre de Sociologie Européenne, em Paris. Os seus interesses incluem a incorporação, a dominação etno-racial, a desigualdade urbana, a penalização e a teoria social. Em português tem publicados os livros Corpo e Alma. Notas Etnográficas de um Aprendiz de Boxe (Relume Dumará, 2002); O Mistério do Ministério. Pierre Bourdieu e a Política Democrática (Revan, 2005); Onda Punitiva. O Novo Governo da Insegurança Social (Revan, 2007) e As Duas Faces do Gueto (Boitempo, 2008). É co-fundador e editor da revista interdisciplinar Ethnography e foi colaborador regular do Le Monde diplomatique entre 1994 e 2004.
Dans cet article, l’auteur explicite son approche de l’ethnographie, de la théorie sociale et de la politique du savoir, à travers un entretien au fil duquel il démêle les liens entre ses travaux sur l’incorporation, la marginalité urbaine et l’État pénal. En retraçant son parcours intellectuel, il porte au jour les connexions pratiques et épistémologiques entre ses principaux projets de recherche, spécifie la contribution du travail de terrain à chacun d’eux, et examine les rôles des intellectuels dans les sociétés avancées à l’ère de l’hégémonie néolibérale. Renvoyant dos à dos l’empirisme de Hume et le cognitivisme néo-kantien, l’auteur défend l’usage de l’ethnographie comme instrument de rupture et de construction, souligne la puissance des compétences incarnées, et plaide pour l’impératif de réflexivité épistémique ainsi que pour la multiplication des genres textuels et des styles d’écriture afin de mieux capturer la douleur et la saveur de l’action. Dans la sphère publique, il argue que la science sociale est en mesure d’agir comme dissolvant de la doxa mais aussi comme phare éclairant les propriétés latentes et les tendances inaperçues des transformations sociales, de sorte à perturber et à élargir le débat civique.
Las prácticas clasificatorias que se producen en las interacciones cotidianas entre policías, tanto en su dimensión cognitiva y comunicacional como en su dimensión de poder y dominación, caracterizan un aspecto fundamental del medio policial. A partir de una reflexión sobre diferentes materiales discursivos, se propone el análisis histórico y etnográfico de una categoría que, pese a que hoy se reduce a un término, mitra, revela una cierta agilidad y poder performativo por su adaptación a contextos históricos diferenciados. El análisis de este estereotipo, que ha cristalizado como el nudo de un discurso que refleja experiencias y prácticas profesionales concretas, tiene como objeto revelar hasta qué punto las representaciones sobre las complejas y conflictivas realidades urbanas participan igualmente en la construcción de esa misma realidad.
When organisations go through a reorganisation phase, it is more than probable that the social and professional reproduction phase will be particularly tense. To illustrate my point, I use ethnographic data on two different organisations and professions: typographers and policemen in the Portuguese context. In the text considerable importance is attributed to the expression of forms of resistance to change, to cycles of renovation and remodelling organisations go through. In order to describe and analyse the social interactions and cultural representations that are drawn in social reality, the ethnographic method of observation has turned out to bean essential tool.