Este livro reúne um conjunto de contributos sobre a história da polícia e do policiamento em Portugal nos últimos dois séculos e meio. Nos diversos capítulos conseguimos deslindar as múltiplas texturas das interações e relacionamentos entre polícias e cidadãos. Os autores apresentam um amplo e variado leque de propostas temáticas e analíticas: as várias “formas da polícia”; a composição social das forças policiais e sua distribuição pelo território; as classificações e controlo de grupos como os “criminosos”, os “fadistas” e os manifestantes que tomaram as ruas durante a Primeira República. As políticas de segurança pública, os quotidianos de trabalho e controlo policial, bem como as memórias e representações culturais engendradas em torno da polícia e dos seus agentes, surgem detalhadamente analisadas neste livro. O objetivo da obra é dar conta dos estudos que nos últimos anos têm tomado direta ou indiretamente a polícia como objeto de estudo e, simultaneamente, lançar as bases para investigações futuras.
Esquadra de polícia é um retrato de uma força de segurança urbana mas é, também, a ilustração de um país onde, no que diz respeito ao policiamento, a democracia se foi instalando aos poucos. O livro traduz, nos aspectos mais sensíveis da vida quotidiana e das relações humanas, as estratégias e tácticas desta instituição, dos polícias nos bastidores de uma esquadra e nas ruas e vidas dos agentes, passando pelas tramas do difícil policiamento de um crime público, como é o da violência doméstica. O livro termina com uma questão: “Que futuro estará reservado às esquadras”?
Esse artigo tem o intuito de discutir os resultados de uma pesquisa com mulheres policiais em um batalhão de um município do estado de São Paulo entre 2015 e 2016 a partir das dificuldades sensíveis de acesso ao campo. O texto é dividido em duas partes. Na primeira, submetemos a literatura da especialidade no Brasil a uma revisão crítica pela ausência manifesta de uma discussão aprofundada da situação de pesquisa sobre gênero em instituições policiais. Na segunda parte, tentamos evidenciar a forma como determinadas opções teóricas – a análise das máscaras do Estado, o potencial disruptor de gênero nas polícias, a masculinidade persisiva – foram iluminadas pelos limites metodológicos à abordagem de cariz etnográfico e opacidades enfrentados na pesquisa. O Estado aparece como uma peça fundamental neste texto, pois ele não simplesmente se esconde e se torna opaco como gera, por intermédio dos seus funcionários em interação conosco, na condição de pesquisadoras em ciências sociais, diversas camadas de máscaras que permitem que este se vá sugerindo e simulando, enquanto se nega a ser adivinhação e conhecido, limitando desse modo o fluxo da comunicação que é a base da pesquisa social. Concluímos pela necessidade de comprometer as universidades na desocultação destes processos em instituições públicas tecendo uma crítica a “éticas” acadêmicas normativas que sirvam apenas para aprimorar e tornar mais criativas as velhas opacidades do Estado e das polícias militares.
O presente ensaio procura delinear uma alternativa interpretativa a críticas fatalistas sobre o Estado e o policiamento contemporâneo pós-colonial em países africanos. Partiu-se de uma pesquisa realizada com alunos cooperantes em formação e oficiais de polícia africanos formados em Portugal, especificamente no Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna (ISCPSI). Defende-se a ideia de que discursos normativos e reformistas tendem a ser proferidos por alunos e ex-alunos que obtêm uma formação superior de longa duração que os agrega em comunidades de saber. Os efeitos práticos desta formação individual na condução do policiamento local não são de forma alguma evidentes. Porém, o que a pesquisa indica é que a abertura de avenidas de possibilidades intermédias na mudança de leis, políticas e técnicas policiais não deve ser desprezada.